domingo, 22 de março de 2009

PALAVRA CALADA


"E ma yawonso ivwidi nsungi andi;
e bila yawonso kunsi
ezulu ina yentangw'a butama
ye ntangw'a vova"
Kimpovi 3,1.7
(Eclesiastes)

A palavra é a matéria,
O silêncio é o espírito;
A palavra é o corpo,
O silêncio é a alma;
A palavra é o dia,
O silêncio é a noite;
A palavra é a vida,
O silêncio é a eternidade.

Somos reféns do que falamos,
Somos donos do que calamos.

A palavra é a armadilha,
O silêncio é a sensatez;
A palavra é o vestuário,
O silêncio é a nudez;
A palavra é a revelação,
O silêncio é a surpresa;
A palavra é o anúncio,
O silêncio é o segredo;
A palavra é a música,
O silêncio é a saudade;
A palavra é a prece,
O silêncio é a meditação.

Somos condenados pelo que falamos,
Nos condenamos pelo que calamos.

A palavra é a flor,
O silêncio é o embrião;
A palavra é a vaidade,
O silêncio é moderação;
A palavra é a moldura,
O silêncio é a pintura;
A palavra é grande - diz alguma coisa,
O silêncio é maior - diz tudo ou nada.

Falar nunca será defeito
Mas saber calar será sempre virtude!


N. Talapaxi S.

sexta-feira, 20 de março de 2009

NA LINHA DO PRECIPICIO


Arrumo a minha trouxa de bicuatas
E me mando para dentro de mim;
Quanto mais penso, mais ela pesa;
Tanto mais vivo... mais perto do fim

Desalojo as cobras da cachimônia
Mas os grilos insistem em se alojar;
Se eu não parar de falar comigo mesmo,
Não sei me dizer aonde vou parar

Mais que uma tonelada na cabeça
Pesa a faculdade que me tortura o juízo:
Tenho alguma coisa a ver com a vida alheia
E deixo de fazer algo que seja preciso?

Desvio o olhar - finjo que que não vejo;
Fecho os olhos - rasgo o peito - e entro;
Mas é a mesma cena por todos os lados,
Ela me persegue por fora e por dentro:

O kandengue dobrado, em feto, ao relento,
Gravidez de uma sociedade que o chuta,
É um aborto abandonado no acostamento
Ao desdem de uma patria prostituta

O tapete vermelho de sonhos e trofeus
É um baton no semblante da filantropia:
Por baixo esconde-se o funguto do sistema,
Por cima desfila-se o perfume da hipocrisia

Uma retorica musicada em nome de Deus
É a dissonância belica em muitos templos;
O som que parece angelico suscita maldições
O pendão que se alça traz nodoas de exemplos

O camarada entregue as drogas do destino
Busca o ecstasy da vidano crack da noia,
Um alucinogeno correndo nas veias da urbe
Sem esperança de achar na sargeta uma tipoia

E a senhora postada no vertice das avenidas
Chocalhoando a alma a espera de merrecas,
Ao compasso do chocalho que a penuria lhe impõe
Mas os homens ignoram com as mãos secas...

Tudo. Tudo isso é muito pra minha cabeça!
Preciso me afastar da linha do precipicio;
Recolho a minha trouxa, bicuata por bicuata,
E me mando pra bem longe desse hospicio

É escusado desviar o olhar - fingir não ver;
É a mesma cena por todos os lados - um pesadelo!
Quanto mais penso, mais grilos na cachimonia;
Tanto mais vivo, mais escuto o mesmo apelo:

Deixe de tentar entender
O coração humano;
É melhor desfrutar da vida
Que terminar insano!!!


Talapaxi
Maio/2007


http://talapaxi.blogspot.com

terça-feira, 3 de março de 2009

ACROSTICO







Levei os meus devaneios


Um por um - ao teu encontro;


Lá onde tu és uma deusa


Um mortal se deslumbra:


Zelas pelos meus sonhos


Iluminas os meus refolhos


Não me deixas sem teus afagos...


Há doçuras que transbordam


Até que um dia eu acorde!






N. Talapaxi S.


Niteroi/ 2009