segunda-feira, 6 de abril de 2009

CAIRAM ROSAS DOS MEUS OLHOS !


Eu só queria
Sob a codea térrea
O mais longe in-possível
O mais profundo precipicio
Que no chão
Existe tecido
Pra sepultar essa paixão!



...e nem um tumulo
Em memoria a idas eras de felicidade
Seria erigido sobre o sepulcro


Pra quê
Essa obra de fidelidade
Se eu não queria reminiscencias?


...e esse sentimento
Jamais seria outra vez experimentado
Nem por mim
Nem por você

Eu só queria uma cova
Para sepultar-me dessa sina
Sem promessas de ressurreição
Se ao amor a dor se destina

Mas diante do teu retrato
Fragmentaram-se meus abrolhos
E, entre a paixão e a saudade,
Cairam rosas dos meus olhos !


N.Talapaxi S.
S.Paulo, 1996

QUADRO VAZIO


"o moyo ame uladidi
muna ntantu;
unkumika mun'owu
wa diambu diaku"
Nkunga 119:28
(Salmos)



Pousei sobre as petalas
dos teus labios
Meus sonhos
como asas de borboleta;
Colhi da Primavera
desabrochada da tua boca
Cores, odores...
sabores de ímpar faceta


Entre o teu e o meu ser
um arco-íris;
Mas aonde estão as nuances
das suas aguarelas?
Entre a flor e o firmamento,
o meu faro,
Na tela do teu sorriso,
pode percebe-las


Mas que pena que a borboleta
bateu as asas e decolou;
Que pena
que a Primavera perdeu a cor
E o arco-iris desbotou!


Da tela do teu sorriso
Só vejo agora a moldura
Porque - na verdade,
O meu sonho era a pintura!


N. Talapaxi S.
(Niterói, 2000)







CONTRASTE


"Mawonso mekwiza wau
awumosi kw'awanso;
dimosi dibwulang'nsongi
yo kimpumbulu:
ona wambote, wavelela,
y'ona wafunzuka..."
Kimpovi 9:2
(Eclesiastes)


Uma cubata
Feita de lata
La no morro
Vem chuvisco
É um risco
Sem socorro!


Uma mulher
Sem o prazer
De um leque
Sem complexo
Vende sexo
No musseque!


Uma criança
Na desgraça
Se consome;
Se desenrasca,
Raspa casca
Ou cai de fome!


Zé Povinho
Sem ninho
Nem farol
Dorme na rua
Faça lua
Ou faça sol


Dom Deputado
No outro lado
Em vida bela
è gente fina
Não combina
Com favela


Mansão na praia,
Rabos-de-saia...
Compra justiça;
Sempre na moda,
Uisque com soda,
Dispensa linguiça



Kumbú à solta,
Capangas em volta,
Mil puxa-sacos...
Vivendo nessa
Não se interessa
Saber de barracos


Oh, sorte injusta!
Me assusta
Esse contraste!
Uns ditos nobres,
Outros feitos pobres
Na vida que lhes ofertaste!

N. Talapaxi S.