segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DO ZOMBO À LUA

N. Talapaxi S.



Lá não temos duques;
Temos sobas e batuques
Nas mutambas,
Nos kimbos,
Nos templos…


Carreguei do Zombo à Lua
Lembranças cartadas na rua
E - de sob o teto
Do Velho Mambo!

VERSÍCULOS À SOLTA (IV)


À Vanda Lúcia


Essa orquídea nunca perde o viço
Porque você é toda a sua vivacidade;
Quando estás perto, é um jardim,
Quando estás longe, é a saudade!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

À REALIDADE CRUEL

N. Talapaxi S.


Pode se bater - se debater
E até se abater - e acabar com tudo
Pode se atirar no chão
- Do chão não vai passar mesmo!


Pode clamar na escuridão
Abrir o berreiro no breu
Espantar o mosquiteiro
Assstar a vizinhança inteira
Pode, sim!... ou, não!


Já que a vela se derreteu
E a chama se apagou


Que o fofandó não tem gasolina
E o telemóvel já não acende
Porque o bolso ancorou


Pode clamar na escuridão
E reclamar com você mesmo


Pode fechar de novo os olhos
Forçar o sono chegar
E até conseguir dormir outra vez
Acordar em outras dimensões
Em outro Éden
Outro campo de nudismos


Acorda!
Pouco adianta agora
Quer retomar
Duvido que seja ainda o mesmo sonho!
Foi belo, natural e puro demais
Para a nossa cruel realidade


Essa aqui é a realidade
Que nem permite mais o sonho

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SONHO DE KIANDA


                                  N. Talapaxi S.





Veio das bualas

De um musseque desprezado



Desceu do candongueiro

Protestou contra o cargueiro

Desvendou um trapo

Espantou a poeira

Lustrou os pés e os saltos

Recompos-se dos sobressaltos

Ajeitou a seda no manequim

Atendeu o penteado postiço

Cochichou com um pedaço de espelho

Que lhe segredou um conselho

Abriu uma careta de assombro

Fez arte, bocas e olhares

E refez a banga!



Depois

Desceu à baixa de Luanda

E na Marginal se sentiu Kianda



Veio lá das bualas

De um musseque abandonado

E no sonho de Kianda

Se encontrou!





                  Luanda, 09/Junho/2010


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

À Bel-prazer!
( N. Talapaxi S.)
Ela chegou assim
Sem salvas nem palmas
E tocou a porta da minha alma;
Adentrou sem badalos,
Fez batuque nesse coração
E aportou-se num canto
Do seu canto ela me olha;
Sem cantar me encanta,
Seu canto está no olhar
E a sua melodia, no compasso
Do balanço dos seus gestos
Ela provoca com os beijos
Que o seu batom desenha e pinta
E o vento se ocupa de trazer;
Provoca com o seu verbo
Meloso, temperado e fervecente
Que traz o vapor dos aromas
Duma magia sem par,
Feitiço das realezas africanas
E sabe conjugar
O poder e o querer
Como os monumentos de ébano
Diante dos seus súditos:
Se ela pode,
Eu me curvo aos seus predicados;
Se ela quer,
Eu me rendo às suas vontades;
E suplico
"Porquê não toma,
Oh, beldade!
Esse trono singelo
No altar do meu sentimento,
E reina enquanto a eternidade
Ainda vivifica esse peito arrebatado
Pelos contornos do teu ser,
E fica?
Chegaste assim
Sem salvas nem palmas;
Adentraste sem badalos
Provocando batucadas em mim
E agora
Porque não te assentas sem cerimônia
E fique à bel-prazer?!

domingo, 13 de dezembro de 2009

(E)FEITO (IN)DIFERENTE

terça-feira, 27 de outubro de 2009


PANTERAS NEGRAS

Priscila Preta



A propósito

de um anúncio de produto

para alisar cabelo, que dizia:

"você pode ser selvagem

mas seu cabelo não"



Meu sonho é que as mulheres

Alisem menos os cabelos

E analisem mais sua beleza



A evolução da resistência

Passa pela aceitação da imagem



Assim deixaremos de ser

Selvagens domesticadas

E passaremos a a ser

Panteras Negras

Prontas para dar o bote do argumento



Minha roupa não é uniforme

O trabalho acabou



E agora

Estou a passeio pelo conhecimento

domingo, 25 de outubro de 2009





MODA E MODOS AO TELEFONE


( N. Talapaxi S.)




I
Toca o telefone.
- Não acredito! - Reclamo.
Estou na parte de baixo da casa, no meu atelier, há vinte degraus de escadas do quarto onde está o aparelho. E ele não pára de tocar.
- Porque que eu ainda não trouxe essa droga para baixo?
Tenho de deixar mesmo o trabalho pela metade para atender. E subo as escadas bufando.
- Alô!
- A gata está - pergunta uma voz menina.
A tal gata na verdade é H-Ta. A minha filha. E a voz ao telefone é de alguma amiguinha dela que eu (ainda) não conheço. E, com certeza, ela também não me conhece. Caso contrário, é provavél que ela não me faria essa pergunta. Assim...
Assim como quem cai de paraquedas na casa-da-mãe,joana; sem licença nem nada.
A minha filha trata sempre de passar para a kambada (colectivo de kamba) dela que detesto quando alguem liga e, sem “oi” nem “por gentileza”, vai logo perguntando.
- Escuta, querida, eu naõ sei quem é voce e já sou obrigado a te dar uma informação?
- Ah, desculpe, senhor! Sou amiga dela. Ela está?
- A senhora não respondeu a minha pergunta. Eu sou obrigado a falar se ela está?
Um instante de silencio se fez ."Deus passou", dizia minha mãe quando pairava uma nuvem silêncio no meio da algazarra em casa.
Eu o rompi a mudez com menos rispidez. Mais simpático.
- Alôooooo! Você táí, amor?
- Só to querendo saber se ela está. Só isso. - Essa última parte, “´só isso”, veio mais alterada, disposta a quebrar o meu cessar fogo. Mas mas mentive (digamos) educado.
- Eu sei. E acredito – segui deslilando mel.
- Mas um “por favor” não ficaria nada mau né!– falei com calma, simpatico; supondo que a moça estava perdendo a paciência comigo.
- Tudo bem. - respondeu secamente. E continuou.
- A H-Ta está, fazendo o favor?
- Não. Não está.
E ela desligou o telefone na minha cara. Sem “obrigado”nem “tchau”. Nem me deu tempo de dizer falar mais nada. Que a minha última resposta era só uma brincadeira. Que H-ta estava no portão com outra amiguinha.
Menina malcriada e mal agredecida! - pensei comigo. Deixei o meu trabalho pra lhe atender; recapitulei com ela uma lição de boas meneiras e ainda bate o telefone na minha chipala!?
Será que a minha filha, quando liga pra casa das kambas dela faz dessa meneira? Não. A minha filha, não. Está certo que ela tem defeitos mas ela não liga com essa falta de educação para casa dos outros. Ela até gosta de escutar e dançar aquela música do CD que ganhou
de uma amiga: ” por favor, obrigado, de nada… não tem de que; com linceça, como vai você……….”
Mas agora só falta a ”menina malcriada e malagradecida” do telefone ser a tal amiga que deu o CD de presente pra minha filha!


II
O telefone toca.
Lá vou eu. Vinte degraus de escada para atender. Mal coloco o aparelho no ouvido, antes que meus lábios se abrissem pra um “alo!”
- Quem tâ falando? - Pergunta alguém do outro lado.
- Eu nem falei nada ainda - respondi.
- Como é que você ta querendo saber quem ta falando?
- Mas agora você falou - retrucou a voz do ligador.
Esse rapaz é atrevido; pensei comigo. O que lhe falta na educação lhe sobra na coragem.
- Meu amigo, é voce quem ligou pra minha casa.
- 4588 3243 é o telefone da tua casa. E quem ta falando?
- Eu é quem pergunto quem ta falando. Porque você ligou pra minha casa…
- Custa responder? – o ligador, então, pegou pesado.
- Custa - respondi curto e grosso.


III
E o telefone toca outra vez.
Não perco mais tempo com indagações. Com discussões de malcriados. Não aceito.
Então, adotei um modo prático de atender.
E o telefone tocando.
Deixei tocar.
Por fim atendi.
- Bom Dia! Eu sou Wanguila-Mu-Nkutu’a-lau-Wasalamo-Wa-Mbongo. Quem está ao telefone e com quem deseja falar, por favor?
- O quê?
Repeti.
- Eu sou o Wanguila-Mu-Nkutu'a-lau... - o ligador nem me deixou continuar.
- Ta bom! Ta bom! Tá bom! Desculpe! Foi engano!
E desligou o telefone na minha cara.






sábado, 24 de outubro de 2009


TUDO ISTO E MAIS


N. Talapaxi S.








Ao meu pai,


Meu Velho Querido,


Samuel Mambo domingos








Pela estrada da vida caminho;


Luzente ou plena de escuridão,


Asfaltada de flor ou de espinho


Não me abandona a tua mão





Vejo alegria no teu sorriso,


A segurança no teu abraço,


O amor se espelha no teu aviso


Ao me afastar de todo embaraço



O que tenho e o que não tenho


Devo a ti sem reclamar;


O mal aparto, o bem eu retenho


Como me ensinaste a amar





Páro e penso todas as vezes:


Quem mais me daria tanto bem assim;


Se o que fazes e o que não fazes


É tudo, tudo por amor de mim!






Tudo isso e mais


Me dá a convicção que jamais


Estive sem o teu carinho


Nesse caminho





Tudo isso e mais


Muito feliz me faz


Pois conto com o teu amor


Na alegria ou na dor



FRUTA PROIBIDA

N. Talapaxi S.






Quem te toca


Não te troca;


Quem não toca


Te provoca;


Quem te troca


Não se toca;


Quem provoca


Se choca;


Quem não se choca


Nem desboca;


Pois, quem tem boca


Te evoca!!!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


NÃO ME DIGA

PRA NÃO SONHAR
(N. Talapaxi S.)


“Vo i lukwikilu, i lusikidisu lua mana
Mesiwang’e vuvu, e nton’a lekwa
Ilembele moneka”
Ayibere 11:1
(Hebreus)



Não me digas pra não sonhar

Não é ao teu pé
Que o manto da kandengue se definha
E traz à tona o tenro esqueleto
Com a cara lívida
Implorando mais alma
Para escorar o corpo mazeza
Ao menos até o próximo amanhecer

Não me digas pra não sonhar

Não é a tua cabeça
Que perde os travesseiros
Nos pesadelos de cada torrente que cai
E racha o teto – já remendado,
Mistura-se ao pranto
Alaga a ilusão...
Só não arrasta a fé
Que – ainda – segura a cubata na encosta
Ao menos até a próxima chuva

Não me digas pra não chorar
Não é no teu prato
Que a colher raspa o vento
.....................................
Ao menos até a próxima esmola

Não me digas pra não sonhar

Não é o teu peito
Que sangra de tristeza
Quando a mão sai vazia do cafocolo
E nem um lwei furado
Pra inteirar na miséria da passagem
Em busca de bumbas subalternas
Pra contornar a indigência
Ao menos até o próximo biscate

Não me digas pra não sonhar

Não é o teu dorso
Que suporta os pregos dessa cruz
Dessa paixão que maltrata
Suga o viço
Enruga a cútis
Zomba – cospe – chuta – joga...
Mata um pouco a instante...

Pelo menos até o próximo biscate
Pelo menos até a próxima esmola
Pelo menos até a próxima chuva
Pelo menos até o próxima amanhecer

Só me resta agora o sonho.
Não me digas pra não sonhar!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009


É A CARA DO PAI!

(N. Talapaxi S.)


Tremo de gratidão
Ao Sr Azor Ferreira

Que Deus lhe abençõe!


"Nkw'akundi ayingi,
Nkwa mpasi zayingi;
Vena yo nzodi anlaminima,
Mpangi uke".

Ngana 18:24
(Provérbios)



Cheguei cego e feito de retalhos,

Não me negaste a bengala nem o fato;

Longe do Zombo me abriste o desterro

E não te escusaste de repartir o prato



Cheguei mendigo e simplório marujo,

Me atendeste com o peixe e o cais;

Muitos mares ainda havia por navegar

Mas o destino é o viver quem faz



Cheguei,longe dos braços da Ilha do Cabo;

Me estendeste os teus - de bom anfitrião;

E sem nunca me teres visto mais negro

Me ofereceste o teu amor de irmão



Cheguei sedento - adejando sonhos,

E me deste de beber - não de utopias;

Deus não escreve por linhas tortas,

Nem te juntou a mim só por filantropia



Deus - que nos fez à Sua semelhança,

Um dia te fez - pra mim - como um anjo;

Só exalto as virtudes desse Onipotente

Que me dão o sopro ditoso que esbanjo



Que se veje em ti sempre a cara do Pai,

O verbo do Filho, o espírito do Santo...

Mesmo que a orbe vil te arme ciladas

E o galo, três vezes, venha a soltar um canto



Cheguei até aqui depois de cego, mendigo

E depois de tantos mares ter navegado

Pra render a Tata Nzambi toda a graça
E não deixar de te dizer: Muito Obrigado!

AMIGOS E AMIGOS
(N. Talapaxi S.)


"O nkundi ozolanga
Ntangwa zawonso,
O mpangi muna mpasi kawutukila"
Ngana 17:17
(Provérvios)


Assim como a sombra aparece
Quando há claridade
Mas, cobrindo-se o céu todo de nuvens,
Logo desaparece na escuridade


Desse modo há os amigos
Que só aparecem na prosperidade
Mas logo desaparecem
Quando chega a adversidade


Que amigos são esses
Que só aparecem quando há claridade?
Esses fazem a sombra
Mas jamais fazem uma amizade!


TEM DE AMIGO SÓ O NOME
QUEM NO PRAZER SE TRAZ
MAS NA DOR QUE NOS CONSOME
DE AMIGO NADA FAZ


Luanda, 1988


















domingo, 26 de julho de 2009

PENÚRIA
N. Talapaxi S.

"Kadi zula itelamena zula,
kintinu ye kintinu: mukala
mvengele ya nzakama za ntoto
o mwaka-mwaka. Muna wokela
kwa umpumbulu, o zola
kwa wantu ayingi kuvola"
Matai 24:7-12
(Mateus)



Vida ancorada a sobejos
Quem nem sempre sobram
De alguma mesa abastada
Mas lá se fica
Lançado à sorte;
Sentinela no trono da miséria!


Eis o homem
A quem o destino assentou nos antros
Entre cabanas e picadas,
Arranha-céus e auto estradas,
No desalento
De não ver aflorar na existência
Um só ramo de esperança!


Eis a mulher
Que deteriora a duçura das suas belezas
Na penúria da sobrevida
Ofertando as suas entranhas
Ao prazer de outros infelizes
No horizonte de ter um pão!


Eis uma criança,
Uma grosa, um milhar, um milhão...
Sem um sonho pra sonhar;
Coração mendigo
Acalentado por algumas esmolas
Sob o instinto de - pelo menos,
Não perder o sopro!


É a humanidade!
Eis a humanidade
No cortejo fúnebre do amor
Rendendo continências a escória
E vangloriando-se mais
E demais
Pelos louros das ciências e tecnologias
Da nossa Era internética!

terça-feira, 7 de julho de 2009


PORQUÊ OS CASAMENTOS

NÃO DURAM MAIS COMO ANTES?

De N. Talapaxi S.




"Muna diadi o yakala

i keyambwil'o s'andi yo ngw'andi,

katatidila nkaz'andi:

bekala nitu mosi"

Etuku 2:24

(Gênesis)






Porquê os casamentos
Não duram mais como antes?



Porque os gostos
Deixaram de ser semelhantes?



Porque as pratas-da-casa
Não são mais tão brilhantes?



Porque dormem juntos
Mas sinham - e acordam - distantes?



Porque as noites-de-núpcias
Não tem mais lua-de-mel no quarto minguante?



Porque dos suspiros de poesia
Só sobraram prosas fatigantes?



Porque os pares não se deixam ser mais
Mais amantes?


Porque as mulheres
Não são mais só coadjuvantes?



Porque os protagonistas
Atuam como se fossem figurantes?



Porque as proles
Não são mais nada abundantes?



Porque tornaram-se sociedades
De sócios tão ambiciosos como ignorantes?



Porque falta lapidá-los
Como se faz com os diamantes?



Porque falta fogo
Pra transforma-los em ouro fulgurante?



Porque a fidelidade
Não resiste mais aos jovens ficantes?



Porque a internet
Tornou-se a alcova dos pulos mais picantes?



Porque os casais não toleram mais
Ser tolerantes?



Afinal, porquê os casamentos
Não duram mas como antes?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

VERSÍCULOS AO ACASO (III)

N. Talapaxi S.

O passado move-se

Atraves do presente

E funde-se no futuro

A espera da gente

terça-feira, 9 de junho de 2009


SOBREVIVENTE

N. Talapaxi S.






Vejo a fome que mata o mato

A sede que mata a rio;

Vejo o mar que afoga a praia,

O calor que racha o frio

Vejo a cova que se abre no céu

Sepulcro do que morre na terra

Vejo o Sermão da Montanha calado

Onde soam os gritos da guerra


E eu ainda sobrevivo


Mas morro pouco a pouco



Vejo a vida que se envenena


Com a justiça em recesso


Vejo o caminho da benevolência


Com a seta no sentido inverso


Vejo o sangue verde se vertendo


Na lareira das vaidades


Vejo o sopro que se vai na água


No dilúvio que devasta cidades



Mas eu ainda sobrevivo


E morro pouco a pouco



Vejo a vida não valendo nada


Desde o fratricídio de Caim


Vejo, páro mas não sei o que pensar


Se foi só o começo do fim


Vejo todos se devorando uns aos outros


Onde o princípio do amor se anula;


Vejo a luz do cenáculo se apagando


E a ceia acontecendo no breu da gula



E eu ainda sobrevivo


Mas morro pouco a pouco

sexta-feira, 29 de maio de 2009


A COR DE DEUS (I)

N.Talapaxi S.




Se sou negro - não pardo,

Legítimo - e não bastardo,

Porquê que eu duvidaria então

Que Deus - que é casto,

É pai - e não padrasto,

Não é também um negrão?
HAJA LIBERDADE
N.Talapaxi S.



"O Mfumu i Mwanda:

kuna kwin'o Mwand'a Mfumu,

i kwin'o vevoka"

Korinto II 3:17
(II Coríntios)




Enquanto podemos sonhar e pensar

Grades para nós nunca serão prisões;

Se não temos a liberdade interior,

É dentro de nós que estão os grilhões



Quem é livre sendo escravo na mente,

Se na mente faz-se o homem livre ou não;

Se a alma não se loberta das algemas,

É escusado escancarar as portas da prisão!



Por mais senhores que somos de nós

Toda a liberdade encerra um limite;

Liberdade é esse direito que gozamos

De fazer tudo o que a lei permite




Haja justiça em tudo o que a lei permite

E teremos a liberdade que nos basta;

Pois, um povo justo é um povo livre

Traz o coração destemido e alma casta




















quarta-feira, 27 de maio de 2009


VERSÍCULOS AO ACASO (II)

N. Talapaxi S.


Quem viu o desabrochar dos lírios

Na virgindade da Primavera

Conhece a aurora dos amores

Que sonham sonhos de quimera

SEM SABER
N. Talapaxi S.


"Ngangu imbuta diambu;
ozevo baka ngangu:
muna mbaku aku awonso
baka mbakula"

Ngana 4:7
(Provérbios)


Nasci
Sem saber ter nascido;
Cresci
Sem saber ter crescido;
Caminho
Sem saber caminhar;
Perco
Sem saber perder
Mas venço
Sem saber vencer
E aprendo
Sem saber aprender


Sinto
Sem saber sentir
Que amo
Sem saber amar
E espero
Sem saber esperar



Tenho
Sem saber ter;
Quero
Sem saber querer
E posso
Sem saber poder...
Mas vou
Sem saber ir



Nasci
Sabendo ter nascido;
Vivo
Sabendo estar (sobre)vivendo
E hei de morrer
Sem saber ter morrido

VERSÍCULOS AO ACASO (I)

N.Talapaxi S.


O que vejo são flores

Que perdem a essência

Mal despontam do botão

No canteiro da inocência!

terça-feira, 26 de maio de 2009


F A R I S E U S

N. Talapaxi S.

"Tatu kwa yeno, asoneki
ye afarisi, akwa kuvunina!
kadi nukianzisa nim'a mbungwa
y'elonga, vo i muna ngudi,
mwazala yo mbiki ye yingalu"

Matai 23:25
(Mateus)



...pois existem escribas e fariseus

Espionando os teus movimentos

Empenhados em descobrir os teus erros

E punir-te torcendo os mandamentos



Homens propensos a apedrejar-te

Por quaisquer que sejam teus adustérios;

Querendo tirar o cisco do teu olho

No obscuro de seus próprios critérios



Muitos algozes com olhos de lince

E a língua afiada contra a tua saúde;

Dados à eminência de executar uma pena

Que te arraste logo pra o ataúde



Caras de cordeiro - almas de abutre,

Peritos nas tecelagens da injustiça,

Sentinelas ao pé dos teus pecados

Com a esperança posta na carniça...



Ai de vós, fariseus! cristãos hipócritas!

Do corpo e do prato limpam o exterior

Mas estão cheios de sujeira no interior;

Como escaparão do fogo do inferno?!







MÁSCARAS
N.Talapaxi S.


"O ntima usundidi
mawonso o tekama,
wayela kikilu:
nani ozeye wo?"

Yeremiya 17:9
(Jeremias)


Nem tudo o que brilha é ouro,
Nem tudo o que alveja é prata;
Há um santo do qual dói a falsidade,
Há um anjo com alma de psicopata


Sob o céu ninguém conhece ninguém
Senão o Criador a Sua criação;
Há uma máscara no rosto de cada um,
Quem vê cara não vê coração!

"IN NATURA"
N. Talapaxi S.


"Edienga, dialuvunu;
o wete, wangengo:
o nkento ovumina
Yave i'kembelwa"
Ngana 31:30
(Provérvios)



Não se enlaçam no seu pescoço
Nem ouro, nem prata, nem rubis...
Seu regaço é uma jóia sem bisturis
Feita pelo Grã-ourives sem esboço



Não ostenta, entre os seus dedos,
Nem brilhantes, nem elos de enlace
(Talvez eu podesse lograr dela uma chance
E findariamos a vida juntos e ledos!!!)



Seu ser é um corpo diamantino,
Sua modéstia realça a explêndida tez;
Se o tempo reduz a sua solidez,
Aumenta o seu quilate para o destino!



Sem berloques aos tornozelos,
Nem de safira, nem de cristal ou outros adornos,
Ela é um tesouro em seus contornos
E a explosão de muitos... muitos anelos!


Sem nenhum til postiço na figura
Não lhe faltam beldades aos traços brutos;
Cabem ao Artífice Criador os tributos
E a mim só resta admirar a criatura!


sexta-feira, 15 de maio de 2009


VIA CRUCIS
N.Talapaxi S.


"Umfwila nkanda, eYave,
Kadi mu mpasi ngina:
E disu diame dikobokele,
Ye moyo ame ye nitu!
Nkunga 31:9
(Salmos)


Andei em bolandas
Perdi-me no espaço...
E na via crucis
Do querer-te esquecida
Espalhei um rastro
De lágrimas de sangue
De um coração esquartejado
Uma alma aleijada


Até onde vou?
- Não sei!
Mas, certamente
(Ja-mais)
Te esquecerei!







terça-feira, 12 de maio de 2009

ARTE DE ÉBANO


Seus passos
No invejar do antílope
No compasso das suas ancas
Balançam a dança
Que balança as suas tranças
E os gêmeos de maboque
Que estufam o seu peito
Só não dançam os meus olhos
Hipnóticos
Enfeitiçados
Diante de toda essa arte!
Mas minha alma balança


Nem mulata de alegorias
Nem morena de sol a pino
Nem chocolate
Nem marrom de superstições
Nem mulher "de cor"


Mas preta - com muita graça
E negra - com toda a raça


Com a pintura de nagô
E a magia dos bantos
Essa escultura de ébano
Me balança

N. Talapaxi S.

segunda-feira, 11 de maio de 2009


É GATUNO!
N. Talapaxi S.


"Efi kenafiau o nsongi,
i fiwetw, ke mu ulolo wa mbidi
a yimpumbulu.
Tona kwa zilu, yo tata nsongi:
kadi mbaninu andi luvuvama"
Nkunga 37:16-27
(Salmos)



Quem rouba é um pobre
Quem sonega é um nobre

Quem rouba conta os tostões
Quem sonega multiplica os milhões

Quem rouba morre presidiário
Quem sonega vive milionário

Quem rouba é o pobre
Quem sonega é o nobre

Quem rouba é o pião
Quem sonega é o patrão

Quem rouba corre o risco
Quem sonega confisca o fisco

Quem rouba come o pão que o diabo amassa
Quem sonega brinda o que trapaça

Quem rouba não tem mérito
Quem sonega tem crédito

Quem rouba tem a lei por cima
Quem sonega tem a lei de estima

Quem rouba agrava o dilema
Quem sonega ganha um diadema

Quem rouba é perseguido
Quem sonega é protegido

Quem rouba sempre aparece
Quem sonega... desaparece

Quem rouba acaba morto
E deixa uma desgraça;
Quem sonega morre no conforto
E deixa uma herança

COMEDIA DO DIABO 2


"kusundwa kwai bo,

sunda kak'o bi muna wete"

Romanos 12:21



Equilibrando-se sem asas
À borda do despenhadeiro
Entre o concreto do Chá
E o abstrato do abismo
Na vasta cova do Anhangabaú;
À bordo de um astral vazio,
Entre as dúvidas

E as dívidas - da existência
E a sedução da morte...


Eis o seu picadeiro
Para a derradeira sátira


Eis o seu monte
Para o último sermão


Eis o seu trampolim
Para o pino final...


Perdeu a fonte a água,
Perdeu o pão;
Perdeu a alma e a estima,
Perdeu o chão;
Perdeu a fé e até o sonho
Perdeu - pra si mesmo - o perdão


É a comédia do diabo:
Você escreve - ele produz;
Você atua - ele conduz;
Voce recua... e não acha luz


Equilibrando-se a beira de um inferno
Só lhe falta pensar... e (a)tirar-se
Pra chegar ao fim
Mas perdeu também o equilíbrio
E sem asas pra voar
Perdeu-se!



N. Talapaxi S.