TALAPAXI PROSA E POESIA
Se de poeta e louco todo o mundo tem um pouco, eis a minha poesia e a minha loucura.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
DO ZOMBO À LUA
Lá não temos duques;
Temos sobas e batuques
Nas mutambas,
Nos kimbos,
Nos templos…
Carreguei do Zombo à Lua
Lembranças cartadas na rua
E - de sob o teto
Do Velho Mambo!
VERSÍCULOS À SOLTA (IV)
À Vanda Lúcia
Essa orquídea nunca perde o viço
Porque você é toda a sua vivacidade;
Quando estás perto, é um jardim,
Quando estás longe, é a saudade!
terça-feira, 2 de agosto de 2011
À REALIDADE CRUEL
Pode se bater - se debater
E até se abater - e acabar com tudo
Pode se atirar no chão
- Do chão não vai passar mesmo!
Pode clamar na escuridão
Abrir o berreiro no breu
Espantar o mosquiteiro
Assstar a vizinhança inteira
Pode, sim!... ou, não!
Já que a vela se derreteu
E a chama se apagou
Que o fofandó não tem gasolina
E o telemóvel já não acende
Porque o bolso ancorou
Pode clamar na escuridão
E reclamar com você mesmo
Pode fechar de novo os olhos
Forçar o sono chegar
E até conseguir dormir outra vez
Acordar em outras dimensões
Em outro Éden
Outro campo de nudismos
Acorda!
Pouco adianta agora
Quer retomar
Duvido que seja ainda o mesmo sonho!
Foi belo, natural e puro demais
Para a nossa cruel realidade
Essa aqui é a realidade
Que nem permite mais o sonho
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
N. Talapaxi S.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
domingo, 25 de outubro de 2009
MODA E MODOS AO TELEFONE
I
Estou na parte de baixo da casa, no meu atelier, há vinte degraus de escadas do quarto onde está o aparelho. E ele não pára de tocar.
- Alô!
- A gata está - pergunta uma voz menina.
A tal gata na verdade é H-Ta. A minha filha. E a voz ao telefone é de alguma amiguinha dela que eu (ainda) não conheço. E, com certeza, ela também não me conhece. Caso contrário, é provavél que ela não me faria essa pergunta. Assim...
Assim como quem cai de paraquedas na casa-da-mãe,joana; sem licença nem nada.
A minha filha trata sempre de passar para a kambada (colectivo de kamba) dela que detesto quando alguem liga e, sem “oi” nem “por gentileza”, vai logo perguntando.
- Ah, desculpe, senhor! Sou amiga dela. Ela está?
- A senhora não respondeu a minha pergunta. Eu sou obrigado a falar se ela está?
Um instante de silencio se fez ."Deus passou", dizia minha mãe quando pairava uma nuvem silêncio no meio da algazarra em casa.
- Alôooooo! Você táí, amor?
- Só to querendo saber se ela está. Só isso. - Essa última parte, “´só isso”, veio mais alterada, disposta a quebrar o meu cessar fogo. Mas mas mentive (digamos) educado.
- Eu sei. E acredito – segui deslilando mel.
- Mas um “por favor” não ficaria nada mau né!– falei com calma, simpatico; supondo que a moça estava perdendo a paciência comigo.
- Tudo bem. - respondeu secamente. E continuou.
- Não. Não está.
E ela desligou o telefone na minha cara. Sem “obrigado”nem “tchau”. Nem me deu tempo de dizer falar mais nada. Que a minha última resposta era só uma brincadeira. Que H-ta estava no portão com outra amiguinha.
Menina malcriada e mal agredecida! - pensei comigo. Deixei o meu trabalho pra lhe atender; recapitulei com ela uma lição de boas meneiras e ainda bate o telefone na minha chipala!?
Será que a minha filha, quando liga pra casa das kambas dela faz dessa meneira? Não. A minha filha, não. Está certo que ela tem defeitos mas ela não liga com essa falta de educação para casa dos outros. Ela até gosta de escutar e dançar aquela música do CD que ganhou
de uma amiga: ” por favor, obrigado, de nada… não tem de que; com linceça, como vai você……….”
Mas agora só falta a ”menina malcriada e malagradecida” do telefone ser a tal amiga que deu o CD de presente pra minha filha!
O telefone toca.
Lá vou eu. Vinte degraus de escada para atender. Mal coloco o aparelho no ouvido, antes que meus lábios se abrissem pra um “alo!”
- Quem tâ falando? - Pergunta alguém do outro lado.
- Eu nem falei nada ainda - respondi.
- Mas agora você falou - retrucou a voz do ligador.
Esse rapaz é atrevido; pensei comigo. O que lhe falta na educação lhe sobra na coragem.
- Meu amigo, é voce quem ligou pra minha casa.
- 4588 3243 é o telefone da tua casa. E quem ta falando?
- Eu é quem pergunto quem ta falando. Porque você ligou pra minha casa…
- Custa responder? – o ligador, então, pegou pesado.
- Custa - respondi curto e grosso.
III
E o telefone toca outra vez.
Não perco mais tempo com indagações. Com discussões de malcriados. Não aceito.
Por fim atendi.
Repeti.
sábado, 24 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
(N. Talapaxi S.)
“Vo i lukwikilu, i lusikidisu lua mana
Mesiwang’e vuvu, e nton’a lekwa
Ilembele moneka”
Ayibere 11:1
(Hebreus)
Não me digas pra não sonhar
Não é ao teu pé
Que o manto da kandengue se definha
E traz à tona o tenro esqueleto
Com a cara lívida
Implorando mais alma
Para escorar o corpo mazeza
Ao menos até o próximo amanhecer
Não me digas pra não sonhar
Não é a tua cabeça
Que perde os travesseiros
Nos pesadelos de cada torrente que cai
E racha o teto – já remendado,
Mistura-se ao pranto
Alaga a ilusão...
Só não arrasta a fé
Que – ainda – segura a cubata na encosta
Ao menos até a próxima chuva
Não me digas pra não chorar
Não é no teu prato
Que a colher raspa o vento
.....................................
Ao menos até a próxima esmola
Não me digas pra não sonhar
Não é o teu peito
Que sangra de tristeza
Quando a mão sai vazia do cafocolo
E nem um lwei furado
Pra inteirar na miséria da passagem
Em busca de bumbas subalternas
Pra contornar a indigência
Ao menos até o próximo biscate
Não me digas pra não sonhar
Não é o teu dorso
Que suporta os pregos dessa cruz
Dessa paixão que maltrata
Suga o viço
Enruga a cútis
Zomba – cospe – chuta – joga...
Mata um pouco a instante...
Pelo menos até o próximo biscate
Pelo menos até a próxima esmola
Pelo menos até a próxima chuva
Pelo menos até o próxima amanhecer
Só me resta agora o sonho.
Não me digas pra não sonhar!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
N. Talapaxi S.
"Kadi zula itelamena zula,
kintinu ye kintinu: mukala
mvengele ya nzakama za ntoto
o mwaka-mwaka. Muna wokela
kwa umpumbulu, o zola
kwa wantu ayingi kuvola"
Matai 24:7-12
(Mateus)
Vida ancorada a sobejos
Quem nem sempre sobram
De alguma mesa abastada
Mas lá se fica
Lançado à sorte;
Sentinela no trono da miséria!
Eis o homem
A quem o destino assentou nos antros
Entre cabanas e picadas,
Arranha-céus e auto estradas,
No desalento
De não ver aflorar na existência
Um só ramo de esperança!
Eis a mulher
Que deteriora a duçura das suas belezas
Na penúria da sobrevida
Ofertando as suas entranhas
Ao prazer de outros infelizes
No horizonte de ter um pão!
Eis uma criança,
Uma grosa, um milhar, um milhão...
Sem um sonho pra sonhar;
Coração mendigo
Acalentado por algumas esmolas
Sob o instinto de - pelo menos,
Não perder o sopro!
É a humanidade!
Eis a humanidade
No cortejo fúnebre do amor
Rendendo continências a escória
E vangloriando-se mais
E demais
Pelos louros das ciências e tecnologias
Da nossa Era internética!
terça-feira, 7 de julho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
terça-feira, 9 de junho de 2009
N. Talapaxi S.
Vejo a fome que mata o mato
A sede que mata a rio;
Vejo o mar que afoga a praia,
O calor que racha o frio
Vejo a cova que se abre no céu
Sepulcro do que morre na terra
Vejo o Sermão da Montanha calado
Onde soam os gritos da guerra
E eu ainda sobrevivo
Mas morro pouco a pouco
Vejo a vida que se envenena
Com a justiça em recesso
Vejo o caminho da benevolência
Com a seta no sentido inverso
Vejo o sangue verde se vertendo
Na lareira das vaidades
Vejo o sopro que se vai na água
No dilúvio que devasta cidades
Mas eu ainda sobrevivo
E morro pouco a pouco
Vejo a vida não valendo nada
Desde o fratricídio de Caim
Vejo, páro mas não sei o que pensar
Se foi só o começo do fim
Vejo todos se devorando uns aos outros
Onde o princípio do amor se anula;
Vejo a luz do cenáculo se apagando
E a ceia acontecendo no breu da gula
E eu ainda sobrevivo
Mas morro pouco a pouco
sexta-feira, 29 de maio de 2009
"O Mfumu i Mwanda:
kuna kwin'o Mwand'a Mfumu,
i kwin'o vevoka"
Enquanto podemos sonhar e pensar
Quem é livre sendo escravo na mente,
Por mais senhores que somos de nós
Haja justiça em tudo o que a lei permite
E teremos a liberdade que nos basta;
Pois, um povo justo é um povo livre
quarta-feira, 27 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
VIA CRUCIS
N.Talapaxi S.
"Umfwila nkanda, eYave,
Kadi mu mpasi ngina:
E disu diame dikobokele,
Ye moyo ame ye nitu!
Nkunga 31:9
(Salmos)
Andei em bolandas
Perdi-me no espaço...
E na via crucis
Do querer-te esquecida
Espalhei um rastro
De lágrimas de sangue
De um coração esquartejado
Uma alma aleijada
Até onde vou?
- Não sei!
Mas, certamente
(Ja-mais)
Te esquecerei!
terça-feira, 12 de maio de 2009
ARTE DE ÉBANO
segunda-feira, 11 de maio de 2009
N. Talapaxi S.
"Efi kenafiau o nsongi,
i fiwetw, ke mu ulolo wa mbidi
a yimpumbulu.
Tona kwa zilu, yo tata nsongi:
kadi mbaninu andi luvuvama"
Nkunga 37:16-27
(Salmos)
Quem rouba é um pobre
Quem sonega é um nobre
Quem rouba conta os tostões
Quem sonega multiplica os milhões
Quem rouba morre presidiário
Quem sonega vive milionário
Quem rouba é o pobre
Quem sonega é o nobre
Quem rouba é o pião
Quem sonega é o patrão
Quem rouba corre o risco
Quem sonega confisca o fisco
Quem rouba come o pão que o diabo amassa
Quem sonega brinda o que trapaça
Quem rouba não tem mérito
Quem sonega tem crédito
Quem rouba tem a lei por cima
Quem sonega tem a lei de estima
Quem rouba agrava o dilema
Quem sonega ganha um diadema
Quem rouba é perseguido
Quem sonega é protegido
Quem rouba sempre aparece
Quem sonega... desaparece
Quem rouba acaba morto
E deixa uma desgraça;
Quem sonega morre no conforto
E deixa uma herança