sexta-feira, 29 de maio de 2009


A COR DE DEUS (I)

N.Talapaxi S.




Se sou negro - não pardo,

Legítimo - e não bastardo,

Porquê que eu duvidaria então

Que Deus - que é casto,

É pai - e não padrasto,

Não é também um negrão?
HAJA LIBERDADE
N.Talapaxi S.



"O Mfumu i Mwanda:

kuna kwin'o Mwand'a Mfumu,

i kwin'o vevoka"

Korinto II 3:17
(II Coríntios)




Enquanto podemos sonhar e pensar

Grades para nós nunca serão prisões;

Se não temos a liberdade interior,

É dentro de nós que estão os grilhões



Quem é livre sendo escravo na mente,

Se na mente faz-se o homem livre ou não;

Se a alma não se loberta das algemas,

É escusado escancarar as portas da prisão!



Por mais senhores que somos de nós

Toda a liberdade encerra um limite;

Liberdade é esse direito que gozamos

De fazer tudo o que a lei permite




Haja justiça em tudo o que a lei permite

E teremos a liberdade que nos basta;

Pois, um povo justo é um povo livre

Traz o coração destemido e alma casta




















quarta-feira, 27 de maio de 2009


VERSÍCULOS AO ACASO (II)

N. Talapaxi S.


Quem viu o desabrochar dos lírios

Na virgindade da Primavera

Conhece a aurora dos amores

Que sonham sonhos de quimera

SEM SABER
N. Talapaxi S.


"Ngangu imbuta diambu;
ozevo baka ngangu:
muna mbaku aku awonso
baka mbakula"

Ngana 4:7
(Provérbios)


Nasci
Sem saber ter nascido;
Cresci
Sem saber ter crescido;
Caminho
Sem saber caminhar;
Perco
Sem saber perder
Mas venço
Sem saber vencer
E aprendo
Sem saber aprender


Sinto
Sem saber sentir
Que amo
Sem saber amar
E espero
Sem saber esperar



Tenho
Sem saber ter;
Quero
Sem saber querer
E posso
Sem saber poder...
Mas vou
Sem saber ir



Nasci
Sabendo ter nascido;
Vivo
Sabendo estar (sobre)vivendo
E hei de morrer
Sem saber ter morrido

VERSÍCULOS AO ACASO (I)

N.Talapaxi S.


O que vejo são flores

Que perdem a essência

Mal despontam do botão

No canteiro da inocência!

terça-feira, 26 de maio de 2009


F A R I S E U S

N. Talapaxi S.

"Tatu kwa yeno, asoneki
ye afarisi, akwa kuvunina!
kadi nukianzisa nim'a mbungwa
y'elonga, vo i muna ngudi,
mwazala yo mbiki ye yingalu"

Matai 23:25
(Mateus)



...pois existem escribas e fariseus

Espionando os teus movimentos

Empenhados em descobrir os teus erros

E punir-te torcendo os mandamentos



Homens propensos a apedrejar-te

Por quaisquer que sejam teus adustérios;

Querendo tirar o cisco do teu olho

No obscuro de seus próprios critérios



Muitos algozes com olhos de lince

E a língua afiada contra a tua saúde;

Dados à eminência de executar uma pena

Que te arraste logo pra o ataúde



Caras de cordeiro - almas de abutre,

Peritos nas tecelagens da injustiça,

Sentinelas ao pé dos teus pecados

Com a esperança posta na carniça...



Ai de vós, fariseus! cristãos hipócritas!

Do corpo e do prato limpam o exterior

Mas estão cheios de sujeira no interior;

Como escaparão do fogo do inferno?!







MÁSCARAS
N.Talapaxi S.


"O ntima usundidi
mawonso o tekama,
wayela kikilu:
nani ozeye wo?"

Yeremiya 17:9
(Jeremias)


Nem tudo o que brilha é ouro,
Nem tudo o que alveja é prata;
Há um santo do qual dói a falsidade,
Há um anjo com alma de psicopata


Sob o céu ninguém conhece ninguém
Senão o Criador a Sua criação;
Há uma máscara no rosto de cada um,
Quem vê cara não vê coração!

"IN NATURA"
N. Talapaxi S.


"Edienga, dialuvunu;
o wete, wangengo:
o nkento ovumina
Yave i'kembelwa"
Ngana 31:30
(Provérvios)



Não se enlaçam no seu pescoço
Nem ouro, nem prata, nem rubis...
Seu regaço é uma jóia sem bisturis
Feita pelo Grã-ourives sem esboço



Não ostenta, entre os seus dedos,
Nem brilhantes, nem elos de enlace
(Talvez eu podesse lograr dela uma chance
E findariamos a vida juntos e ledos!!!)



Seu ser é um corpo diamantino,
Sua modéstia realça a explêndida tez;
Se o tempo reduz a sua solidez,
Aumenta o seu quilate para o destino!



Sem berloques aos tornozelos,
Nem de safira, nem de cristal ou outros adornos,
Ela é um tesouro em seus contornos
E a explosão de muitos... muitos anelos!


Sem nenhum til postiço na figura
Não lhe faltam beldades aos traços brutos;
Cabem ao Artífice Criador os tributos
E a mim só resta admirar a criatura!


sexta-feira, 15 de maio de 2009


VIA CRUCIS
N.Talapaxi S.


"Umfwila nkanda, eYave,
Kadi mu mpasi ngina:
E disu diame dikobokele,
Ye moyo ame ye nitu!
Nkunga 31:9
(Salmos)


Andei em bolandas
Perdi-me no espaço...
E na via crucis
Do querer-te esquecida
Espalhei um rastro
De lágrimas de sangue
De um coração esquartejado
Uma alma aleijada


Até onde vou?
- Não sei!
Mas, certamente
(Ja-mais)
Te esquecerei!







terça-feira, 12 de maio de 2009

ARTE DE ÉBANO


Seus passos
No invejar do antílope
No compasso das suas ancas
Balançam a dança
Que balança as suas tranças
E os gêmeos de maboque
Que estufam o seu peito
Só não dançam os meus olhos
Hipnóticos
Enfeitiçados
Diante de toda essa arte!
Mas minha alma balança


Nem mulata de alegorias
Nem morena de sol a pino
Nem chocolate
Nem marrom de superstições
Nem mulher "de cor"


Mas preta - com muita graça
E negra - com toda a raça


Com a pintura de nagô
E a magia dos bantos
Essa escultura de ébano
Me balança

N. Talapaxi S.

segunda-feira, 11 de maio de 2009


É GATUNO!
N. Talapaxi S.


"Efi kenafiau o nsongi,
i fiwetw, ke mu ulolo wa mbidi
a yimpumbulu.
Tona kwa zilu, yo tata nsongi:
kadi mbaninu andi luvuvama"
Nkunga 37:16-27
(Salmos)



Quem rouba é um pobre
Quem sonega é um nobre

Quem rouba conta os tostões
Quem sonega multiplica os milhões

Quem rouba morre presidiário
Quem sonega vive milionário

Quem rouba é o pobre
Quem sonega é o nobre

Quem rouba é o pião
Quem sonega é o patrão

Quem rouba corre o risco
Quem sonega confisca o fisco

Quem rouba come o pão que o diabo amassa
Quem sonega brinda o que trapaça

Quem rouba não tem mérito
Quem sonega tem crédito

Quem rouba tem a lei por cima
Quem sonega tem a lei de estima

Quem rouba agrava o dilema
Quem sonega ganha um diadema

Quem rouba é perseguido
Quem sonega é protegido

Quem rouba sempre aparece
Quem sonega... desaparece

Quem rouba acaba morto
E deixa uma desgraça;
Quem sonega morre no conforto
E deixa uma herança

COMEDIA DO DIABO 2


"kusundwa kwai bo,

sunda kak'o bi muna wete"

Romanos 12:21



Equilibrando-se sem asas
À borda do despenhadeiro
Entre o concreto do Chá
E o abstrato do abismo
Na vasta cova do Anhangabaú;
À bordo de um astral vazio,
Entre as dúvidas

E as dívidas - da existência
E a sedução da morte...


Eis o seu picadeiro
Para a derradeira sátira


Eis o seu monte
Para o último sermão


Eis o seu trampolim
Para o pino final...


Perdeu a fonte a água,
Perdeu o pão;
Perdeu a alma e a estima,
Perdeu o chão;
Perdeu a fé e até o sonho
Perdeu - pra si mesmo - o perdão


É a comédia do diabo:
Você escreve - ele produz;
Você atua - ele conduz;
Voce recua... e não acha luz


Equilibrando-se a beira de um inferno
Só lhe falta pensar... e (a)tirar-se
Pra chegar ao fim
Mas perdeu também o equilíbrio
E sem asas pra voar
Perdeu-se!



N. Talapaxi S.

UM NORTE











Wa, o wana s'ekau dia Yave;
mbongo a vumu i nsendo andi"
Mkunga 127:3
(Salmos)

Acróstico
Para a minha filha


Ainda que o amor não existisse
Não haveria tamanho sentimento
No céu, na terra ou até no inferno
Antes desse que por ti me alimento


Com você o meu universo
Acontece como a flor que brota na rocha;
Realiza-se com a fé que se levanta
Onde o concreto se afrouxa;
Levita-se acima das nuvens cinzentas
Intentando abrir-te um norte
No qual possas seguir sempre ditosa
Ainda que logo me chegue a morte!


N. Talapaxi S.

domingo, 10 de maio de 2009

KUMBÚ, PRA QUEM TE QUER...











Kumbú
Pra quem te quer...

Podes comprar a cama
Mas não podes garantir o sono;
Podes ostentar a coroa
Mas não podes perpetuar o trono


Podes comprar a harpa, o kissanje,
Mas o talento tem valor inestimável;
Podes ate inventar asas e voar
Mas voar como a água é impensável


Kumbú
Pra quem te quer...
Podes ate comprar a garina
Mas o coração dela, jamais;
Pode o homem até se vender
Mas não serás dono dos seus ideais


Podes empunhar a mutimba
Mas a segurança não garantes;
Podes blindar a carroça
Mas não podes estancar os meliantes


Kumbú
Pra quem te quer...


Podes comprar um castelo
Mas os sonhos não podes pagar;
Podes até subornar as rugas
Mas o tempo não se deixa enganar


Podes mesmo rifar o corpo
E assalariar os prazeres do sexo
Mas não podes pagar o lume da paixão
Nem a ventura de partilhar um nexo


Kumbú
Pra quem te quer...


Essa vida se hipoteca aqui
E na morte não encontra apreço;
Podes comprar todos os tesouros
Mas a felicidade não tem preço!

Kumbú
Pra quem não te quer
Eu te quero


N. Talapaxi S.








SIMPLESMENTE... LUZ!


Á amiga
Louise Luz



Para rasgar o breu
Da noite que - por vezes - te assola
Mesmo quando de noiva se veste a lua
Pra enlaçar-se com a tua alma
No templo luzido dos teus olhos...




Basta que sejas um raio de sol
Que sejas simplesmenmte... Luz!




Se luscos e fuscos
Quedarem-se todos os horizontes
E não poderes veslumbrar uma ponte
Que te leve à cabal felicidade,
Lembre-se de se virar pro alto do Monte




E clame por socorro - reflita o astro-mor,
E seja simplesmente... Luz!




Não haverá mares vermelhos
Que não se abram para a tua passagem,
Por mais tenebrosas que sejam as suas ondas,
Nem tempestades sobre as quais não triunfes
Por mais torrenciais que sejam as suas águas




Basta que tenhas uma mostarda de fé,
Que sejas... simplesmente luz!




N. Talapaxi S.
(Niteroi, 2003)






quinta-feira, 7 de maio de 2009

"SÓ SEI QUE NÃO SEI"


Me espanto com as coisas
E com as pessoas,
Sou levado a temer
Bichos que não vejo,
Sou enganado por máscaras
Que os homens desfilam;
Quero saber
De onde vem "o quê",
Porquê "assim" não é "assado"
Para que a vida seja mais fácil


Mas seria a vida
Realmente mais fácil?
- Não sei!
- "Só sei que não sei"!
Me dei conta
Que posso pensar - e penso!
Me dei conta
Que posso imaginar - e imagino!


Tantas vezes
Passo cego e surdo
Por belezas que me cercam
- E até me perseguem!


Mas me quedo estupefato
Admirando coisas
Que só se desenham na minha cachola
E a realidade é um pesadelo
No final do sonho
Quando vejo o meu corpo
Em queda livre num abismo


E acordo!
Me assusto com as coisas
E com as pessoas;
Sou obrigado a admirar
As belezas que me cercam
- E até me perseguem!
Pensando nas coisas
Que só se desenham na minha cachola
Ainda que no final
O sonho volte a ser um pesadalo


Me dei conta
Que posso imaginar - e imagino!
Me dei conta
Que posso pensar - e penso!


Quem sou eu?
Onde eu estou?
De onde vim?
E pra onde vou?
- Não sei!
- "Só sei que não sei"!


N. Talapaxi S.